Método Científico?

Menções ao chamado “método científico” são comuns em livros, artigos, blogs e sites de divulgação científica. Muitos alegam que este método é o que diferencia as ciências de outras atividades humanas que alegam também buscar ou produzir conhecimento. Na realidade, as coisas são mais complicadas do que estas alegações fazem parecer e as ciências são bastante heterogêneas, mesmo por que seus objetos de estudo variam bastante e, no final das contas, os métodos mais adequados a cada assunto ou área de investigação dependerão, em última instância (Claro, além de depender da nossa criatividade, tecnologia além das nossas limitações cognitivas de forma mais geral), da questão de interesse.

Aquilo que muitos chamam de “método científico” não é uma receita de bolo ou um algoritmo infalível para descoberta em ciências naturais ou humanas, mas sim uma tentativa de reunir em um única expressão as diversas estratégias heurísticas e metodológicas utilizadas pelos cientistas de diversas áreas em sua constante tentativa de compreender o mundo, a sociedade, a nós mesmos e ao universo como um todo. Empregada apenas como um atalho explicativo, a expressão pode ser até bem benigna, mas este nem sempre é o caso.

A questão é que não existe um conjunto de regras que sejam elas mesmas imunes a investigação metódica e disciplinada que caracteriza a prática científica e que sejam sempre válidas. Por isso alguns pesquisadores e filósofos nem gostam da expressão já que ela parece engessar a pluralidade de estratégias e procedimentos de investigação científica que são constantemente criados, avaliados e reavaliados.

Por isso não estranhe ouvir de algum cientista mais reflexivo ou de um filósofo da ciência que “o método científico” simplesmente não existe. Contudo, isso não é motivo para para desespero (Neste caso é melhor seguir a dica do guia do mochileiro das galáxias: “Não entre em Pânico”.) Não conclua, por tanto, que por causa disso as ciências não seguem procedimentos sistemáticos, críticos e rigorosos. Não creia que, por não haver “o método”, não existam métodos científicos e que tudo seja apenas um grande caos. Essa não é a lição a ser tirada daí. Apenas compreenda que a ciências em seu cerne são sempre abertas a sua própria atitude crítica  e que na constatação da falibilidade de seus praticantes (nós seres humanos) esta é nossa melhor garantia epistêmica.

Mesmo assim creio ser produtivo tentar propor algumas esquematizações que nos ajudem a compreender como as ciências funcionam, pelo menos em um dado momento histórico; pois mesmo não havendo um único e sacrossanto método científico, a metodicidade das ciências é uma das suas principais características.

Segue a minha humilde oferta, já admitindo que é uma grande simplificação e que deixa de lado muitas coisas mais importantes em áreas específicas do conhecimento com as quais tenho menos familiaridade.


Comentando sobre esse pequeno Frankenstein:

Note as setas que vão para ambos os lados e o espaço à esquerda destinado às virtudes cognitivas envolvidas na atividade científica. Creio que o mais desejável é evitar a visão simplista de que tudo começa sempre com as observações, embora as observações muitas vezes estejam na gênese da escolha dos problemas em ciências e sejam muito importantes como parte da avaliação de hipóteses. A questão é que muitas vezes é preciso um certo nível de teorização e imersão conceitual para definir a observação relevante e delimitar a questão de interesse. Além disso, certas pressuposições sobre nossas capacidades perceptivas estão sempre em jogo, mas mesmo elas podem ser alvo de investigação e teste.  As pressuposições por trás de um tipo de investigação, modelo ou hipótese podem ser a conclusão, ou pelos menos o foco de interesse, de outra pesquisa. As diversas estratégias inferenciais são outra dica da importância de não querer engessar a prática científica e seus métodos em um único modelo não-revisável e estanque. Espero que esse pequeno esquema ajude a compreender o que está em jogo na prática científica, mas também não se deixe influenciar demais por ele. 🙂

__________________________

  • Chalmers, A. F. (1993) O Que é ciência afinal? editora Brasiliense Edição ISBN: 8511120610
  • Chalmers, A. F. (1994) Fabricação da ciência, A (tradução: Sidou, Beatriz) editora UNESP Edição: 1ª ISBN: 8571390592 –
  • French, S. (2009) Ciência:Conceitos-chave em filosofia editora Artmed ISBN: 9788536317175.

Créditos das figuras:

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About evonauta

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36 Responses to Método Científico?

  1. Fonjic says:

    Legal seu Frankenstein, gostei.
    Sugiro botar no canto, em letra miúda, o seu nome e endereço do blog como fonte, afinal o que cai na rede ninguém segura 😛
    E parcimônia, não parsimônia 😉

  2. Muito interessante o post. Sigo o seu blog apenas recentemente e gostei como foi tratado o assunto que é a base para se entender a Ciência de fato… parabéns…

    E recomendo a sugestão do Fonjic de colocar uma espécie de marca d’água na imagem…

    • rodveras says:

      Agradeço o comentário e é bom saber que alguém, além dos meus amigos, está seguindo este blog. A idéia da marca d’água é muito boa. Agradeço de novo.

      Abraços,

      Rodrigo

  3. rodveras says:

    Coloquei uma figura provisória com a minha autoria e o tipo de licença explicitados, mas preciso corrigir os erros de digitação e usar uma imagem de melhor qualidade. Preciso usar a figura original que está na máquina lá de cima e aquele quarto está muito quente para que eu tenha a motivação de fazer isso. Por enquanto só faço as coisas que são exeqüíveis via wifi+notebook aqui da sala. 🙂

    Final de semana boto uma imagem melhorzinha.

  4. Eli Vieira says:

    Rodrigo, muito bom.
    Uma coisa ‘metametodológica’ que seria interessante tratar são os modelos de racionalidade por trás de quase tudo isso, ou ao menos por trás da axiologia.

    Pouco entendo disso, mas me lembro que Popper, por exemplo, defenderia uma teoria hierárquica da racionalidade, em que questões metodológicas são resolvidas em função de valores, mas quanto aos valores, nenhum nível de discussão anterior a eles poderia ser usado para resolver conflitos, sendo necessária uma parada dogmática.

    Acho que deve haver, bem escondidinha, uma setinha entre as teorias e os próprios valores cognitivos/epistêmicos. 🙂

    Algumas correções na imagem: “verossimilhança” é o correto. E as forças alternativas que conheço são “Ockham” ou “Occam”.

    Abração, vou pegar seu esquema didático sempre que precisar de um panorama mais acurado de como as ciências modernas devem ser descritas.

    • Rodrigo says:

      Valeu, Eli. Vou fazer as correções. Sobre a ‘hierarquia de racionalidade’, gosto do modelo reticulado de Laudan que prescinde de uma hierarquia rígida, mas me parece que dá conta de alguns processos na história das ciências . Se vc tiver a oportunidade de achar os livros dele, valem muito a pena. Esta é uma questão bem complicada, mas pertinente, mesmo por que está na base da resolução de dissensos dentro da comunidade científica e no processo de construção de novos consensos.

      Abraços,

      Rodrigo

  5. Muito interessante seu texto, Rodrigo. Lembro de ter ouvido um episódio do Fronteiras da Ciência onde os professores discutiam sobre o método, chegando numa conclusão parecida com a tua. Seu texto me fez lembrar de um capitulo do “imposturas intelectuais” que eu estava relendo esses dias, e um dos “ensaios céticos” do Russell também. Seria legal se vc pudesse comentar sobre os modelos de racionalidade como foi sugerido, pretendo ler mais sobre esse assunto que ainda não conheço tanto.

    um abraço,
    André

    • rodveras says:

      Oi, André. Bom vc ter gostado e comentado. Eu devo em breve (mas nem tanto assim) escrever algo em relação aos modelos de racionalidade e hierarquias de decisão. Eu devo tentar falar um pouco do modelo reticulado de Larry Laudan que acho um dos mais interessantes e consegue dar conta razoavelmente bem da resolução de dissensos nas ciências naturais.

      Abraços,

      Rodrigo

  6. Olá rodveras, tudo bem?

    Só uma dúvida: você está falando do método científico em si (que estabelece a necessidade da falseabilidade, ceticismo, etc, quer dizer, as “bases” da ciência) ou de metodologias científicas (que existem aos montes)?

    O método em si ( http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9todo_cient%C3%ADfico ) é o básico para qualquer ciência. É claro, pra Ciência da Computação, por exemplo (onde entra desenvolvimento de software) algumas coisas acabam tendo de ser adaptadas, mas a base continua sendo a mesma.

    Tanto que não considero como ciência aquilo que foi feito antes da criação do método, ou de seu primeiro rascunho (por Voltaire). O que, de forma alguma, diminui o trabalho dos “cientistas” que fizeram seus trabalhos antes dele: ao contrário, enobrece.

    Abraço!

    • rodveras says:

      Existem dois grandes problemas em suas afirmações. Primeiro, o que vc se refere é apenas uma lista útil de características importantes para a condução da prática científica como *hoje* a percebemos. Na sua lista só existem coisas vagas, como o ‘ceticismo’, e ‘falseamento’. O que me deixa um pouco confuso, em relação aos seus comentários anteriores no Bule, já que a própria idéia de falseabilidade – que é de Popper aliás – é bem recente, além de ter sido muito atacada por vários filósofos e cientistas nestes últimos 50 anos. Não bate com as datas que vc atribui a “criação do método científico”. Essa questão está ligada ao chamado problema da demarcação e até hoje elude os cientistas e filósofos. Segundo, a chamada revolução científica, segundo os historiadores da área começou no século XVII e aquilo que alguns chamam de ‘método científico’ também já tinha sido esboçado nessa época. Na realidade muitos dos princípios experimentais mais difundidos já haviam sido propostos no século XIII, mas contaram com pouca divulgação devido ao clima político e ideológico da época. Ao ler a própria fonte que vc enviou fica claro que a revolução científica começa no século XVII:

      “Os princípios fundamentais do método científico se consolidaram com o surgimento da Física nos séculos XVII e XVIII. Francis Bacon, em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referência ao Organon de Aristóteles-especifica um novo sistema lógico para melhorar o velho processo filosófico do silogismo.

      A metodologia científica tem sua origem no pensamento de Descartes, que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo físico inglês Isaac Newton. René Descartes propôs chegar à verdade através da dúvida sistemática e da decomposição do problema em pequenas partes, características que definiram a base da pesquisa científica.”

      O termo “revolução científica” é usado exatamente por que é neste período que a ciência moderna se consolidou e seus métodos começaram a ser delineados e expressos pelas comunidades científicas que se organizavam. [Dê uma olhada na linha temporal que está em um dos verbetes da wikipedia que enviei] Também notei no artigo que vc enviou que, em nenhum lugar, Voltaire é mencionado. Realmente não entendo a sua insistência nisso. Voltaire, foi um brilhante filósofo e escritor (autor de obras como ‘Cândido’, ‘Zadig’ e ‘Dicionário filosófico’ que eu li, por sinal, antes que vc pergunte), mas não esboçou método científico e sim divulgou os trabalhos de Newton na França e sua abordagem para a investigação da natureza. Apenas nesse sentido, como um divulgador e propagandeador, ele pode ser considerado importante na revolução científica. De fato, apenas, em seu final e na França.

      Sua insistência de dizer que o método científico começa só depois de Voltaire não é respaldado na literatura em história da ciência. A importância de Voltaire é seu papel no iluminismo e como ele e outros iluministas usaram a nova filosofia e a ciência moderna como instrumento de esclarecimento e como modelo de conduta intelectual.

      Como disse a chamada ciência “moderna” surge a partir do século XVII, principalmente por que é nessa época que as grandes sociedades científicas se organizam e em que o chamado método experimental e a matematização das ciências começa a despontar. São os trabalhos e metodologias de cientistas como Galileu, Kepler, Brahe, Newton e de filósofos como Descarte e Bacon que caracterizam a chamada emergência das ciências modernas. Insistir em algo diferente demanda referências sólidas para ampará-lo.
      Mas outro ponto importante é que alguns dos principais métodos e procedimentos de investigação científica, comuns a várias áreas experimentais, como os testes estatísticos de hipóteses são muito mais recentes, datando do começo e metade do século XX, a partir dos trabalhos de Ronald Fisher e Pearson e Neyman.

      O próprio critério de falseabilidade que é do século XX foi implementado em várias ciências através dos testes estatísticos de hipóteses proposto por Neyman e Pearson (século XX) em que a hipótese de nulidade deve ser refutada/desconfirmada. Isso mostra que se quisermos falar de “método científico” devemos compreender que tal “coisa” é algo flexível, dinâmico e em constante mudança, o que na maioria das vezes se perde na expressão.

      Sendo assim , quando se diz que não existe “o método científico” (como Eli fez e eu concordo) quer dizer que não existe(m) um método (ou conjunto de métodos) único(s) que sirva a todos os campos ditos científicos em todas as épocas. Isso ocorre mesmo se contarmos apenas como sendo ciência aquilo que apareceu a partir do século XVIII, como parece ser o que vc faz (E que eu nunca tinha visto ninguém fazer antes). Quer dizer que não existe “o método científico”, no sentido de que não existem características necessárias e suficientes, consensualmente aceitas, comuns há todas as ciências e que, por sua vez de modo complementar, não estariam presentes em outras atividades humanas “não-científicas”. E, como, em geral, é isso que as pessoas tem em mente quando falam de “método científico”, muitos cientistas, além de historiadores e filósofos especializados na área evitam usar a expressão ou apenas a usam ente aspas, por exemplo. Se faz isso para se evitar a sensação de uma receita de bolo ou de que fórmula estanque que faz um grande desserviço as ciências que são muito mais dinâmicas e críticas.

      Porém, não quer dizer que não se reconheçam métodos, procedimentos e estratégias científicas, algumas delas muito difundidas e de ampla aplicação. Foi isso que afirmei no Bule, respondendo aos seus comentários e também aos do Marcelo e de outros que ficaram curiosos e quiseram entrar em especificidades.

      Agora, mas uma vez, para que fique claro, o que existe são alguns princípios (mais ou menos gerais) que podem ou não ser aplicados em uma ou outra situação e que vêm mudando ao longo do tempo e se modernizando através da própria prática científica e olhar filosófico e historiográfico atento. É comum chamar esses princípios de virtudes epistêmicas e cognitivas que são simplesmente aquilo que de melhor tem funcionado para a investigação racional e empírica do mundo a nossa volta.

      Como eu disse no post, é perfeitamente possível usar a expressão “método científico” neste sentido amplo – apenas, para se referir a um dado conjunto de métodos mais comuns em várias ciências (mas não necessariamente em todas) e princípios gerais de investigação cuidadosa – como um atalho explanatório, isto é, como uma expressão mais curta para se referir ao fato de que atividades científicas terem que ser feitas seguindo – se abordagens metódicas, sistemáticas, empiricamente orientadas e criticamente avaliadas por uma comunidade de investigadores – no sentido que as fontes de erro são sempre investigadas na tentativa de eliminá-las ou, pelo menos, reduzi-las – o que vale para os próprios métodos empregados. E não é só a ciência da computação que precisa adaptar a esses princípios. De fato, todo o campo de pesquisa tem que adaptar esses métodos e princípios pois nem todos são indicados para todas situações e problemas investigados. Isso ocorre exatamente pois não existe um (conjunto de) método(s) aplicável a todas em todas as situações.

      Quando se usa a expressão “método científico” estamos falando em um nível abstrato, o que nem sempre é útil quando questões específicas estão em jogos de como algo é investigado por um dado campo de estudo. Daí vem meu pé atrás com a expressão.

      Meu conselho é que vc procure e leia as referências indicadas no final do post e reflita sobre elas. Também aconselho que procure se informar sobre a chamada revolução científica através de livros e artigos de historiadores das ciências e do período em questão que começa no século XVII.

      HENRY, John. A Revolução Científica e as origens da ciência moderna. São Paulo: Jorge Zahar, 1998. [Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges Revisão: Henrique Lins de Barros].

      Existem também vários verbetes bem interessantes spbre o assunto na wiki e em outros sites.

      http://www.clas.ufl.edu/users/ufhatch/pages/03-Sci-Rev/SCI-REV-Teaching/03sr-definition-concept.htm
      http://en.wikibooks.org/wiki/European_History/Scientific_Revolution_and_Enlightenment

      http://en.wikipedia.org/wiki/History_of_scientific_method

      http://en.wikipedia.org/wiki/Timeline_of_the_history_of_scientific_method

      http://www.wsu.edu/~dee/ENLIGHT/SCIREV.HTM

      http://en.wikipedia.org/wiki/Scientific_revolution

      http://cnx.org/content/m13245/latest/

      Uma ótima lista de artigos mais técnicos e livros pertinentes está aqui:

      http://cscs.umich.edu/~crshalizi/notabene/scientific-method.html No site de Cosma Shalizi.

      O artigo de Thagard é também uma boa pedida, sobretudo por que propõe critérios contrastivos e baseados no comportamentos das comunidades de pesquisadores, deixando de lado a idéia de critério necessários e suficientes. Enfatizando que demarcação se faz caso a caso:

      Thagard Paul R. Why Astrology Is A Pseudoscience, In Philosophy of Science Association 1978 Volume 1, edited by P.D. Asquith and I. Hacking (East Lansing: Philosophy of Science Association, 1978), disponível em

      Seguem mais alguns links interessantes:

      http://www.lhup.edu/~dsimanek/bridgman.htm

      http://www.av8n.com/physics/scientific-methods.htm

      Agora, por favor, gostaria que vc evitasse acusações e ofensas. Ser chamado de desonesto e ler a sugestão que não tenho cérebro, simplesmente, por discordar de alguém, e da forma como esse alguém emprega termos e expressões, não é algo que esteja disposto a tolerar de novo. Se quiser realmente recomeçar essa conversa comigo, insisto que vc mantenha a civilidade e aviso que não tolerarei a falta de cortesia e comentários agressivos. Se vc não reconhece que agiu assim, acho que vc nem deveria insistir nessa conversa comigo e deveria conversar sobre o assunto com outras pessoas com que vc consiga manter um diálogo mais tranqüilo. Realmente não tenho paciência para certas atitudes, hoje em dia.

      Rodrigo

      • Olá, Rodrigo.

        Antes de mais nada, lembre-se que Voltaire nasceu por volta de 1690, portanto está na data correta. Além disto, de novo parece haver a confusão entre método científico e metodologia – são duas coisas BEM distintas.

        E sim, o método vem sendo atualizado com novos conceitos, o que não invalida o seu início. Dá uma olhada:

        http://www.hubertlerch.com/TUJ/ih2/ageofreason.htm

        Aqui tem mais um pouco sobre isto:

        http://books.google.com.br/books?id=ehsJ-dnTyI0C&pg=PA41&lpg=PA41&dq=%22scientific+method%22+voltaire&source=bl&ots=DThoc74h3L&sig=Pdd-bbgNwLzHbNtAC5ZR7biQ-cU&hl=pt-BR&ei=b5mPTbalLpL2gAe1oICsDQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CCkQ6AEwAjgU#v=onepage&q=%22scientific%20method%22%20voltaire&f=false

        Em nenhum deles está claro que Voltaire tenha sido o pai do método científico, mas aqui está:

        http://plato.stanford.edu/entries/voltaire/


        While Voltaire’s attacks on Maupertuis crossed the line into ad hominem, at their core was a fierce defense of the way that metaphysical reasoning both occludes and deludes the work of the physical scientist. Moreover, to the extent that eighteenth-century Newtonianism provoked two major trends in later philosophy, first the reconstitution of transcendental philosophy à la Kant through his “Copernican Revolution” that relocated the remains of metaphysics in the a priori categories of reason, and second, the marginalization of metaphysics altogether through the celebration of philosophical positivism and the anti-speculative scientific method that anchored it, Voltaire should be seen as a major progenitor of the latter. By also attaching what many in the nineteenth century saw as Voltaire’s proto-positivism to his celebrated campaigns to eradicate priestly and aristo-monarchical authority through the debunking of the “irrational superstitions” that appeared to anchor such authority, Voltaire’s legacy also cemented the alleged linkage that joined positivist science on the one hand with secularizing disenchantment and dechristianization on the other in the progressive modernization of the world. In this way, Voltaire should be seen as the initiator of a philosophical tradition that runs from him to Auguste Comte and Charles Darwin, and then on to Karl Popper and Richard Dawkins in the twentieth century.

        Agora, dizer que não existe um método científico, é jogar no lixo as premissas que citei, além dos quatro pontos (observação, correlação, generalização e experimentação) citados no primeiro link. Aliás, há alguma área da ciência à qual eles não se apliquem?

        Quanto ao resto, acho que nem faz sentido eu responder. Não estou aqui para agressões, apenas para tentar entender o que você quis dizer em seu texto.

      • Só pra deixar mais claro, vou deixar só a parte mais importante do parágrafo que colei no outro comentário (do link http://plato.stanford.edu/entries/voltaire/ ), por ser meio grande e possivelmente cansativo.


        …philosophical positivism and the anti-speculative scientific method that anchored it, Voltaire should be seen as a major progenitor of the latter. (…)

  7. rodveras says:

    Do mesmo artigo que vc citou, seleciono este trecho: ” This removal of metaphysics from physics was central to the overall Newtonian stance toward science, but no one fought more vigorously for it, or did more to clarify the distinction and give it a public audience than Voltaire.”

    Voltaire, como eu disse, foi um interlocutor importante da “nova ciência” (a que surge durante a revolução científica e culmina nos trabalhos de Newton), um importante divulgador, mas não foi o primeiro a esboçar o “método científico”, como vc sugeriu. Esse é o meu ponto.

    Aliás a citação completa do trecho que vc citou segue que não é nem tão grande é:
    ” While Voltaire’s attacks on Maupertuis crossed the line into ad hominem, at their core was a fierce defense of the way that metaphysical reasoning both occludes and deludes the work of the physical scientist. Moreover, to the extent that eighteenth-century Newtonianism provoked two major trends in later philosophy, first the reconstitution of transcendental philosophy à la Kant through his “Copernican Revolution” that relocated the remains of metaphysics in the a priori categories of reason, and second, the marginalization of metaphysics altogether through the celebration of philosophical positivism and the anti-speculative scientific method that anchored it, Voltaire should be seen as a major progenitor of the latter. By also attaching what many in the nineteenth century saw as Voltaire’s proto-positivism to his celebrated campaigns to eradicate priestly and aristo-monarchical authority through the debunking of the “irrational superstitions” that appeared to anchor such authority, Voltaire’s legacy also cemented the alleged linkage that joined positivist science on the one hand with secularizing disenchantment and dechristianization on the other in the progressive modernization of the world. In this way, Voltaire should be seen as the initiator of a philosophical tradition that runs from him to Auguste Comte and Charles Darwin, and then on to Karl Popper and Richard Dawkins in the twentieth century.”

    O trecho que vc citou apenas indica que Voltaire foi o progenitor desta forma particular de encarar as ciências (de fato um tipo de abordagem filosófica), avessa a especulações metafísicas e que se consolidariam no trabalho de positivistas como Kant e de outros pensadores modernos [“In this way, Voltaire should be seen as the initiator of a philosophical tradition that runs from him to Auguste Comte and Charles Darwin, and then on to Karl Popper and Richard Dawkins in the twentieth century.”] . Estamos falando de uma disputa meta-científica (entrando no terreno da filosofia da ciência, da metafísica e epistemologia) que envolve em como encarar as ciências e seus métodos. Vc está, aparentemente, tentando extrair mais do texto do que está nele.

    De novo, pelo próprio texto, fica claro que o papel de Voltaire foi o de divulgar e explicitar essa atitude antipática a metafísica (aliás, como na época era concebida, antes do criticismo de Kant, diga-se de passagem) na condução da atividade científica que, como o texto diz, estava implícita já em Newton, e na busca por conhecimento de forma geral. Portanto, só corrobora o que eu falei.

    Outro trecho importante do mesmo artigo sobre Voltaire é o que segue: “His attachment was to the new Newtonian empirical scientists, and while he was never more than a dilettante scientist himself, his devotion to this form of natural inquiry made him in some respects the leading philosophical advocate and ideologist for the new empirico-scientific conception of philosophy that Newton initiated.” O que de novo, confirma o que eu disse.

    Como eu tinha afirmado antes, nos comentários do Bule, creio que vc confunde a história da ciência e o surgimento paulatino (mas mais acentuado nos séculos XVII e XVIII) dos métodos experimentais e da utilização de hipóteses, por exemplo, com os usos das ciências (e sua disseminação em círculos não científicos) e mudança de percepção das mesmas, ao longo do tempo. Por exemplo, bem no começo do artigo, podemos ler:

    “He was, however, a vigorous defender of a conception of natural science that served in his mind as the antidote to vain and fruitless philosophical investigation. In clarifying this new distinction between science and philosophy, and especially in fighting vigorously for it in public campaigns directed against the perceived enemies of fanaticism and superstition, Voltaire pointed modern philosophy down several paths that it subsequently followed.”

    Ele (assim outros filósofos iluministas) não delineou ou esboçou um “método científico” Mais uma vez, o que ele fez foi divulgar a nova ciência experimental newtoniana, defendendo uma concepção específica de ciência (que já era clara em Newton que podemos chamar de proto-positivista) que para ele deveria ser modelar, como fez Hume, aliás. Defendendo a sua utilização contra as coisas que ele mais achava perniciosas na sociedade da época, o fanatismo e a superstição, mas isso não faz dele o criador das ciências e nem o delineador do ‘método científico’, apenas um importante pensador que ajudou a divulgar uma concepção de atividade científica que vc partilha (e que eu mesmo simpatizo até certo ponto), uma concepção, no entanto, que até hoje é debatida e que não é a única.

    Rodrigo

    • Cara, desculpa. Você escreveu, escreveu, escreveu… E não disse nada.

      Esse trecho…


      …philosophical positivism and the anti-speculative scientific method that anchored it, Voltaire should be seen as a major progenitor of the latter. (…)

      Diz que Voltaire é progenitor do que mesmo? Da divulgação científica, é isso que você está dizendo?

      Desculpa, não acredito que você seja tão ruim assim de inglês.

      E entenda: não entrei aqui pra criar confusão contigo. Só entrei pra ver este blog e decidir se votava “sim” ou “não” (e votei “sim”) na indicação dele ao Projeto Livres Pensadores (nem sei se chegaram a falar contigo sobre isto antes de propor seu blog).

      Enfim… Nem sabia que o blog era seu.

      Agora… Talvez você chame de “ciência” o que eu chamo de método científico. Talvez seja isto, talvez estejamos falando de coisas diferentes. De qualquer forma, ciência, pra mim, é outra coisa:

      “Ciência é muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos.”
      – Carl Sagan

      Pra mim é ambos.

      Abraço!

      • rodveras says:

        “Cara, desculpa. Você escreveu, escreveu, escreveu… E não disse nada.”

        Eu tenho a mesma impressão sobre o seus comentários, vc parece simplesmente não ler o que escrevi e apresentar coisas não relacionadas com meus pontos e argumentos.

        “Esse trecho…

        “—
        …philosophical positivism and the anti-speculative scientific method that anchored it, Voltaire should be seen as a major progenitor of the latter. (…)
        —”

        “Diz que Voltaire é progenitor do que mesmo? Da divulgação científica, é isso que você está dizendo?”

        Então seu argumento baseia-se em retirar um trecho de seu contexto original e alegar que ele deve ser aceito sem crítica ou interpretação, mesmo quando eu já comentei sobre o texto e de como outras alegações ali não apóiam sua interpretação ? É isso mesmo? Vc não percebe que padrão de argumentação é esse que vc está usando agora? Sério? Com o que isso parece?

        “Desculpa, não acredito que você seja tão ruim assim de inglês.”

        Começaram o sarcasmo e as ofensas. Eu já deveria saber. Em nenhum momento ofendi sua inteligência ou formação, apenas discordei de vc e disse que parecia que vc não havia lido o que eu escrevi com atenção.

        “E entenda: não entrei aqui pra criar confusão contigo. Só entrei pra ver este blog e decidir se votava “sim” ou “não” (e votei “sim”) na indicação dele ao Projeto Livres Pensadores (nem sei se chegaram a falar contigo sobre isto antes de propor seu blog).”

        E eu não afirmei isso, apenas conhecendo o seu padrão de comentários e a dificuldade que vc parece ter em lidar com discordância de forma educada e cortês, por experiência pregressa, achei melhor esclarecer isso antes.

        “Enfim… Nem sabia que o blog era seu.”

        Acredito e não afirmei o contrário.

        “Agora… Talvez você chame de “ciência” o que eu chamo de método científico. Talvez seja isto, talvez estejamos falando de coisas diferentes. De qualquer forma, ciência, pra mim, é outra coisa:

        “Ciência é muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos.”
        – Carl Sagan

        Pra mim é ambos.”

        Creio que se vc ler o meu texto e os comentários mais uma vez, desta vez com atenção, e der uma olhada nos links e bibliografias que recomendei, talvez, isso fica mais claro.

        Mas se quiser um resumo. Para mim ciências é uma forma de investigação criteriosa, sistemática, metódica; empiricamente orientada e criticamente conduzida por uma comunidade de pesquisadores que partilham objetivos e métodos comuns (que variam de campo para campo e de tempos em tempos) e uma atitude crítica em relação a eles e que estão sempre vigilantes em relação a possibilidade de erros a abertos e rever seus resultados, métodos, dados e teorias.

        Como as diversas ciências são bem heterogêneas e têm objetos de estudo bem variados, falar em “método científico” nem sempre é adequado (meu principal ponto, que vc pode discordar é claro) e pode mesmo ser enganoso, quando muitas vezes o que interessa são os detalhes da prática científica que nem sempre consegue implementar todos os critérios e virtudes epistêmicas e cognitivas desejadas. É preciso olhar para as ciências diretamente, não para abstrações simplificadas criadas com fins didáticos.

        Rodrigo

      • “Então seu argumento baseia-se em retirar um trecho de seu contexto original e alegar que ele deve ser aceito sem crítica ou interpretação, mesmo quando eu já comentei sobre o texto e de como outras alegações ali não apóiam sua interpretação ? É isso mesmo? Vc não percebe que padrão de argumentação é esse que vc está usando agora? Sério? Com o que isso parece?”

        Não. O ponto é que o contexto não desfaz o que está sendo afirmado ali. Querer “contextualizar”, “relativizar”, não tira do texto o que ele afirma.

        “Mas se quiser um resumo. Para mim ciências é uma forma de investigação criteriosa, sistemática, metódica; empiricamente orientada e criticamente conduzida por uma comunidade de pesquisadores que partilham objetivos e métodos comuns (que variam de campo para campo e de tempos em tempos) e uma atitude crítica em relação a eles e que estão sempre vigilantes em relação a possibilidade de erros a abertos e rever seus resultados, métodos, dados e teorias.”

        Sim, concordo. Mas se ela é “metódica”, isto exige que exista um método. Ou vários, não importa.

        “Como as diversas ciências são bem heterogêneas e têm objetos de estudo bem variados, falar em “método científico” nem sempre é adequado (meu principal ponto, que vc pode discordar é claro) e pode mesmo ser enganoso, quando muitas vezes o que interessa são os detalhes da prática científica que nem sempre consegue implementar todos os critérios e virtudes epistêmicas e cognitivas desejadas. É preciso olhar para as ciências diretamente, não para abstrações simplificadas criadas com fins didáticos.”

        Nisso eu concordo com a maior parte. O ponto (e foi só por isto que comentei) é esta parte: “Como as diversas ciências são bem heterogêneas e têm objetos de estudo bem variados, falar em “método científico” nem sempre é adequado (meu principal ponto, que vc pode discordar é claro)”. Sim, discordo nisso (e somente nisso).

        A questão é que (e deixando de lado por um momento “quem é o pai da criança”) existe sim um método. Não é uma receita de bolo, é apenas uma lista de princípios que devem ser seguidos conforme couberem (e, concordo, nem sempre todos cabem).

        Agora, daí a afirmar que o método não existe… Parece apenas tática para contrapor-se ao Projeto Vênus (que alega ser baseado no método científico). Mas há argumentos muito melhores para isto: “enquanto o capitalismo (que funciona) e o comunismo (que não funciona) já foram exaustivamente testados, este sistema nunca o foi. E, se é mesmo baseado no método científico, como se alega, que proponha-se um experimento. Ou ele não será falseável?” – Saca?

        Enfim… A questão, aqui, é que houve um tremendo mal entendido naquele dia e, de novo, você me entendeu mal. Não estou procurando agressão, não sou um troll. Estou apenas tentando argumentar contigo, mas você insistiu em desviar do assunto o tempo todo, infelizmente.

        Abraço!

      • rodveras says:

        Adeus, Mário. Vc parece ser uma cara inteligente e sincero, mas não sabe lidar com a discordância e parte para agressão por imaginar que as pessoas só podem estar querendo te sacanear (ou que não sabem ler, interpretar textos ou compreender figuras de linguagem ou mesmo ler em inglês), quando o mais provável é que elas simplesmente não tenham entendido o que vc falou ou da forma como vc falou. Para alguém que gosta de divulgar ciência isso deveria ser uma dica de que, talvez, vc devesse pesquisar mais ou repensar sua forma de argumentar. Todos nós nos deparamos com isso, mas só alguns resolvem chamar os outros de desonestos, sugerir que eles estão só fingindo não entender e que as dúvidas externadas por eles não podem ser sinceras. Se vc acha algo óbvio demais, quem sabe, valê-se a pena refletir e pesquisar melhor sobre o assunto, no mínimo sua convicção se tornaria mais forte e vc disporia de melhores argumentos. Eventualmente, talvez, vc até mudasse de ideia.

        Adeus,

        Rodrigo

        ________________________________

  8. rodveras says:

    “Olá, Rodrigo.

    Antes de mais nada, lembre-se que Voltaire nasceu por volta de 1690, portanto está na data correta. Além disto, de novo parece haver a confusão entre método científico e metodologia – são duas coisas BEM distintas.

    E daí que ele nasceu em 1690? Vc está sugerindo que antes dos 10 anos ele deu contribuições importantes as ciência e ao estudo de seus métodos, é isso? O que eu disse é que, já antes de Voltaire escrever sobre ciência e sobre aquilo que muitos chamam de “método científico” já existia ciência e a revolução científica já havia atingindo seu ápice, com os trabalhos de Newton. Portanto, antes de Voltaire já existia uma ciência moderna. Desculpe, Mário, mas, às vezes, parece que vc não leu o que escrevi com atenção.

    “E sim, o método vem sendo atualizado com novos conceitos, o que não invalida o seu início. Dá uma olhada:

    http://www.hubertlerch.com/TUJ/ih2/ageofreason.htm

    No próprio texto que vc citou que fala sobre o iluminismo, é citado, “The Age of Reason is also called the Enlightenment by historians. It was strongly influenced by the rise of modern science and by the aftermath of the long religious conflict that followed the Reformation. The thinkers of the Age of Reason were called philosophes in France (and Aufklärer in Germany.”

    Além disso, o próprio autor em um outro artigo escreve: “
    If science has a beginning date, it must be 1632 when the Italian astronomer and physicist, Galileo Galilei, published his book, Dialogue on the Two Systems of the World [Note 1] All the previous work, all the observations, theory, and fighting against dogmatic concepts were brought together by Galileo.”

    http://www.welchco.com/02/14/01/60/99/11/2408.HTM

    Ou seja, o iluminismo foi influenciado pela revolução científica que ocorreu antes e culminou nos trabalhos de Newton, mas as ciências modernas já existiam.
    No iluminismo as idéias científicas forma divulgado e seus métodos começaram a ser disseminados e popularizados.

    “Aqui tem mais um pouco sobre isto:

    http://books.google.com.br/books?id=ehsJ-dnTyI0C&pg=PA41&lpg=PA41&dq=%22scientific+method%22+voltaire&source=bl&ots=DThoc74h3L&sig=Pdd-bbgNwLzHbNtAC5ZR7biQ-cU&hl=pt-BR&ei=b5mPTbalLpL2gAe1oICsDQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CCkQ6AEwAjgU#v=onepage&q=%22scientific%20method%22%20voltaire&f=false

    De novo, do ponto de vista historiográfico nada desabona o que eu disse. Por favor, releia com atenção o que eu escrevi.
    Vou até citar um trecho do livro acima que deixa bem claro o papel dos iluministas e filósofos da ápoca que seguiram essa tradição: “number os central figures of the Enlightment ([…]) made significant contributions to the philosophical understanding of science, and thus to the aceptance of the scientific method as the basis for the understanding of human nature.”

    O trecho afirma que esses pensadores contribuíram para a aceitação e compreensão filosófica do chamado ‘método científico’ que neste contexto é nada menos que a própria prática científica e as virtudes, procedimentos e métodos gerais por trás dela. Leia o que eu escrevi sobre isso. Eu não nego que existam princípios bem gerais, nego que eles só aparecem na prática científica após o iluminismo e de que um termo “método científico” reflita adequadamente a fluidez e dinamismo das ciências, mas mesmo assim aceito sua utilização como “expressão atalho” para se referir com as ciências são praticadas em uma dada época, sem que isso pressuponha critérios estanques, necessários e suficientes de demarcação.

    “Em nenhum deles está claro que Voltaire tenha sido o pai do método científico, mas aqui está:

    “http://plato.stanford.edu/entries/voltaire/

    While Voltaire’s attacks on Maupertuis crossed the line into ad hominem, at their core was a fierce defense of the way that metaphysical reasoning both occludes and deludes the work of the physical scientist. Moreover, to the extent that eighteenth-century Newtonianism provoked two major trends in later philosophy, first the reconstitution of transcendental philosophy à la Kant through his “Copernican Revolution” that relocated the remains of metaphysics in the a priori categories of reason, and second, the marginalization of metaphysics altogether through the celebration of philosophical positivism and the anti-speculative scientific method that anchored it, Voltaire should be seen as a major progenitor of the latter. By also attaching what many in the nineteenth century saw as Voltaire’s proto-positivism to his celebrated campaigns to eradicate priestly and aristo-monarchical authority through the debunking of the “irrational superstitions” that appeared to anchor such

    authority, Voltaire’s legacy also cemented the alleged linkage that joined positivist science on the one hand with secularizing disenchantment and dechristianization on the other in the progressive modernization of the world. In this way, Voltaire should be seen as the initiator of a philosophical tradition that runs from him to Auguste Comte and Charles Darwin, and then on to Karl Popper and Richard Dawkins in the twentieth century.”

    Eu citei esse mesmo trecho e o respondi no meu comentário anterior. Vc parece querer tirar demais deste parágrafo.

    “Agora, dizer que não existe um método científico, é jogar no lixo as premissas que citei, além dos quatro pontos (observação, correlação, generalização e experimentação) citados no primeiro link. “

    Não, não é. Leia o que eu escrevi de novo. Vc parece não prestar muita antenção no que os que discordam de vc escreve. O que eu disse é que não existem critérios sempre aplicáveis em todas as situações que só sejam usados nas ciências (de todas as épocas) e que não façam parte de outras formas de investigação e de busca pelo conhecimento.

    “Aliás, há alguma área da ciência à qual eles não se apliquem?”

    Em ciências históricas e observacionais, como a própria paleontologia e a astronomia, não é possível fazer experimentos (no máximo se pode testar experimentalmente certos princípios usando modelos e simulações, que buscam checar a plausibilidade das inferências e conclusões obtidas). Esse é exatamente o problema da demarcação que tanto tem eludido filósofos e cientistas.

    “Quanto ao resto, acho que nem faz sentido eu responder. Não estou aqui para agressões, apenas para tentar entender o que você quis dizer em seu texto.”

    Desde que vc não volte a agir como no Bule, tudo bem, mas realmente me entristece o fato de vc nem ao menos reconhecer sua agressividade e falta de cortesia naquela ocasião.

    Rodrigo

    • Desculpe, isto tudo é irrelevante para o assunto se foi ou não Voltaire quem deu a primeira forma ao método científico.

      E, como eu já disse antes (mais de uma vez, mas não aqui): pra mim NADA do que foi feito antes do método pode ser considerado ciência. O que de forma alguma diminui o que caras como Galileu fizeram, ao contrário: enobrece. Eles não tinham o método e, ainda assim, usando seus instintos acabaram fazendo seus trabalhos como se o seguissem. O que é fantástico! Mas irrelevante ao tema.

      Quanto à agressividade e falta de cortesia, desculpe, mas não tinha como ser diferente. Aquele texto foi publicado com a intenção de me atingir, por causa de um debate que havia tido mais cedo com algumas pessoas num grupo de “ceticismo” (sim, entre aspas mesmo). Ou seja: você nem sabia do que estava acontecendo. Como diz o ditado popular, você pegou o bonde andando e quis sentar na janelinha.

      Grupo este, aliás, do qual eu saí naquele dia mesmo, devido a inúmeras agressões que eu havia sofrido naquele debate. E aí, logo depois, sou agredido novamente. Quer que me porte como? Desculpe, mas não tenho sangue de barata.

      De qualquer forma, não traga aquela discussão pra cá, não tem nada a ver uma coisa com a outra. 😉

      Abraço!

      • rodveras says:

        Mrio, vc me ofendeu diretamente naquela ocasio, disse que eu estava sendo desonesto e que estava tentando pegar vc com truques baratos quando eu estava tendo dificuldades de entender sua posio e a estrutura de seus argumentos e as evidncias que vc tinha para apoi-los. O seu problema com Eli e com outros, no deveria refletir em mim. Mas vc no parece aceitar isso. Eu tambm no tenho sangue de barata, mas prefiro simplesmente no me altercar com os outros, mesmo que seja pela internet. Vc me ofendeu e no parece reconhecer isso. Alm domais, em relao a questo do “mtodo cientfico” vc s se repete, dizendo que pra mim tal coisa, mas vc no conseguiu mostrar que Galileu no seguia esse tal mtodo e cientistas depois de Voltaire sim. Vc apenas mencionou alguns critrios bsicos genricos e citou alguns trechos que s remotamente, quando tirados de contexto, apoiavam o que vc disse. Essa pode ser sua opinio. Respeito, mas no vi nenhum argumento e evidncia clara para que eu a aceitasse ou julgasse relevante. Sinto muito.

        Creio que no temos mais nada a conversar.

        Passe bem.

        Rodrigo

        ________________________________

      • Rodrigo, se te ofendi naquele dia, peço desculpas. E não tenho nenhum problema em fazer isto.

        Mas analise o que você escreveu novamente. Dá a impressão que você está dizendo “você pode ser ofendido, eu não”.

        E, de novo: meus comentários aqui não foi para “brigar” contigo, nem pra te ofender. Queria apenas debater o assunto e achei que fosse possível.

        Quando eu disse “Desculpa, não acredito que você seja tão ruim assim de inglês”, não foi uma agressão. Estava realmente espantado com a forma como você estava encarando o que está escrito naquele trecho. Desculpa, sério, mas o que você fez foi distorcer o texto, para ter razão.

        Não discuti o fato de Voltaire ter feito divulgação científica. E, mesmo tendo feito, isto não significa que ele não tenha feito mais nada. Veja o exemplo do Sagan, um dos homens que mais fez divulgação científica e, ainda assim, fez grandes coisas. Foi consultor da NASA até no projeto Apollo.

        E, desculpe se isto te ofende, mas para mim a filosofia tem muito menos valor dentro da ciência do que você parece considerar. Não dou tanto valor assim. Aliás, certa vez (acho que foi 2006 ou 2007) peguei um livro de Popper na biblioteca da faculdade para ler (não lembro o título, sou PÉSSIMO para nomes). Bem… Não passei do 3º capítulo, não por não ter entendido, mas por ter achado despropositado de tão exagerado. Chega mesmo a beirar o pirronismo (já que não gostam que eu coloque simplesmente “ceticismo filosófico”).

        As ciências saíram da filosofia, verdade. Mas como a frase anterior mesmo diz, elas “saíram”. Talvez esta minha visão se deva ao fato de eu ser um cara de exatas, mas enfim…

        Espero que tenha entendido.

        Abraço!

      • rodveras says:

        Sinto muito, mas no parece. Vc se sentiu ofendido pelo que outras pessoas disseram e isso no lhe d o direito de me ofender. Eu no distorci nada e se vc ainda acha isso no sei por que insiste em argumentar. Com este tipo de suspeita ou acusao, realmente, no h dilogo possvel deste. No responderei mais seus comentrios sobre o assunto.

        Rodrigo

        ________________________________

  9. Eli Vieira says:

    Alguém poderia me dizer quando Voltaire foi eleito um santo para ter feito o que a História mostra que ele não fez?

  10. Acho uma pena que essa discussão tenha terminado assim… =/
    já somos tão poucos nesse brazilzão (envolvidos com divulgação científica), mas ainda vacilamos nos tratando mal, por coisas tão pequenas às vezes. Será que vale a pena causar esse mal estar todo?

    eu acho que não, tinhamos que perder mais tempo escrevendo textos bacanas, lendo livros e artigos, conhecendo coisas pelo que outros camaradas andam escrevendo. Esse é o barato dos blogs!

    Mário, vc parece ter mta convicção naquilo que diz, mas vc percebeu a grande oposição de tuas idéias com as do Rodrigo.

    acredito que existe um ponto em que podemos pensar “daqui pra frente as coisas podem começar a ficar ruins, melhor deixar pra lá”. Sim, deixar pra lá. Quantas vezes já li textos dos quais discordava sobre vários pontos, mas, por saber que dificilmente algo útil poderia resultar disso, deixei pra la. Se vc lê um texto e discorda radicalmente da idéia principal dele, não há mal nenhum em se expressar, mas é necessário saber o momento de parar pq questões teóricas e conceituais podem se confundir facilmente com questões pessoais, ai a vaca vai pro brejo.

    Não precisamos pensar da mesma forma, afinal de contas. Podemos discutir idéias, argumentar sim, mas levar uma discussão até as útlimas consequências para provar algo quase sempre não tem bons resultados pelo que pude observar até hoje.

    gostaria que pudéssemos deixar essas diferenças de lado e nos unir por coisas mais importantes e úteis, nas quais todos nós concordamos e acreditamos.

    um abraço,
    André

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